Seja bem vindo!!!

Aqui você leitor, como eu, encontrará alguns textos escritos por mim, demonstrando toda minha inspiração através da janela da minha vida.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Por que poesia em tempos de indigência?

  Nos teus olhos parados, irriquietos olhos, inquietam-me os sonhos e as idéias...
Inquietam-me o lixo, a poeira, o desassossego da tua vida...
  Preocupam-me os teus despojados trajes, a arte da tua careta de dor no afã do pão, nos imundos restos deixados pelas mãos poderosas e medíocres da vida ...
  Poesia, retalhos de esperança, realidade sobrepujada pelo zumbir dos carros, pela passeata constante dos passos apressados pelas calçadas...
  O som do tiro à distância, o uivo de dor, o grito, a desgraça... Haverá graça nesta poesia que passa e repassa aos  nossos olhos, no tapete dos sonhos que desenrolamos para ver, a cada dia, a paisagem recente em cores desbotadas de um quadro novo e pálido, no verde embaçado e envelhecido, no azul escurecido pelas sombras das desigualdades ??? ...
  E a poesia renasce das cinzas, apara a dor, sorri na farsa, festeja o dia que passa.
  A poesia por si só é triste. Versos exaltam a  vida e choram a morte como as flores. E como as flores a poesia é lírica e poética, traz beleza ao próprio desengano...
  E a poesia da vida transfere à paisagem as cores de mais um amanhecer!
  Os sonhos se renovam, as esperanças se refazem, dando força e coragem ao homem que desperta encorajado pelo sol e pelo céu que ainda são seus, gratuitamente seus!
  Nas letras das canções, no cantarolar dos pássaros, a poesia está presente na música, na natureza, nos descalços pés a retorcerem-se em um samba bem brasileiro...
  Indigência, desigualdade social, desamor... Busca de apego às coisas simples e tolas: das tuas mãos às minhas mãos unidas em uma corrida louca pelas calçadas, descontraidos em sorrisos, transmitindo esperança, festejando a vida, a vida!!!
  Como esquecer que ao ver teu sorriso eu posso sorrir, que ao ver teu sonho realizado, vejo realizado o meu sonho?
  E aí, brother? Dizem os americanos. O brasileiro repete pelas ruas, no lixo, nas fábricas, nos elevadores, debaixo das pontes e viadutos... E aí, irmão? E é como se os laços se unissem e a poesia da palavra dita realizasse o poder maior de unir as criaturas em expressões assim, de uma proximidade absoluta.
  Como nasce a poesia? Como surge o poeta? Como acontecem as palavras que se soltam de uma mente embaralhada e explodem em pedidos de paz, de união, de mudanças?
  Não mudarei a tua história, talvez não...
  Não transformarei os teus conceitos, talvez não...
  Mas não deixarei de perceber o teu olhar triste e vago, o teu rosto apagado e sem sorrisos, a tua falta de esperança...
  Estarei sempre denunciando o teu cansaço, a tua carência, o teu desconforto diante da vida.
  Sou poeta e a poesia é triste vagando pelas noites em busca de amanheceres.
  Sou poeta e busco na natureza a reflexão para meus versos vagos: no vai-e-vem constante das ondas a beijar a areia das praias, no azul de um céu radiante e cheio de vida, nas estrelas..Ah! as estrelas! As mesmas estrelas que tu também vês ao se deitar sobre o cimento frio das calçadas, debaixo das pontes ou sobre os bancos das praças...
  A poesia em tempos de indigência? Ela existe sim, pois é parte do contexto, e cantará sempre em prosa ou em verso os momentos aprisionáveis em suas liras, que denunciarão os instantes mais torpes ou mais significativos, mas todos aqueles que fizerem parte da tua vida, da minha vida, e do que a vida fizer de nossas vidas.
  Por que a poesia em tempos de indigência? Pra gritar, explodir, denunciar, pedir, reclamar, sorrir ou chorar, e principalmente para elevar aos céus em sonoros versos novas preces, a cada dia em que nossos olhos despertem enevoados de sono, tentando ver as cores nítidas em um amanhecer pincelado de cores mais vibrantes na magia do sonho , que ultrapassa as barreiras da realidade para voar mais além, onde só a poesia pode alcançar em suas mutações etéreas!!!
                                                                                          
                                  (texto premiado p/   ABL e F.D.- 2004)