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Aqui você leitor, como eu, encontrará alguns textos escritos por mim, demonstrando toda minha inspiração através da janela da minha vida.

domingo, 17 de outubro de 2010

Retalhos de vida

       Uma cerca,um curral ao longe, a travessia de um enorme pasto onde os animais amanheciam ao redor e ao final um bando de crianças que corriam para o meu abraço!... E ali ficávamos nós, numa troca de vida e energia . Corriam e vinham de todos os lados gritando e sorrindo como se o mundo dependesse daqueles momentos que passávamos juntos , eles e eu, dentro de uma humilde sala de aula , que de frondosa e altiva só tinha mesmo a grande árvore que se erguia ao pé da porta de entrada.
       Sob ela quantas histórias contávamos , eu para elas e elas para mim: eu lhes trazia estórias de castelos e príncipes; elas contavam das colheitas e do leite no curral , das amoreiras em flor no terreiro de casa...Elas não sabiam, não poderiam nunca entender , que me ensinavam tanto quanto eu  a elas.Aprendia pureza, ternura, humildade, vínculos que pés no chão e uma paisagem  de verde intenso ventilavam em terno porvir de sonhos e quimeras.
        E tudo começava em um caloroso e sonoro: "Bom-dia, professora! "
        E foi aí o princípio de tudo. Foi  quando comecei a construção da educadora , mãe e amiga.Ao longe, muito longe ouço ainda o som de um radinho em uma casinha distante, cantando as origens, o chão, a terra.
        Sinto que a palavra, o contato humano eram muito mais fortes e eloquentes , e são hoje responsáveis por muitos verões em busca do mesmo sol e dos mesmos sentimentos em meus devaneios.Só quem os teve, só quem os viveu, sabe das lembranças significativas que tudo isto representa.
          E... novos retalhos teimam em encaixar-se nesta reconstrução de vidas e épocas.
          Assim,  um clarão ao longe convida-nos a caminhar junto com eles...
          ...E aqui estamos nós, transpostos como que por encanto a um certo tempo, uma certa rua, onde senhoras e senhores transitam a pé pelas calçadas e de chapéus nas mãos , os cavalheiros cumprimentam as damas em um "bom-dia" respeitoso , verdadeiro; em outro ângulo alguns desfilam em suas carruagens , como os príncipes daquelas estórias infantis que se perderam nos tempos.
           E o filme da vida continua...Paremos a fita. Façamos a reconstrução do "filme". Salvemos aquelas partes onde parávamos nas calçadas para um bate-papo, o filho sentava-se diante dos pais para indagar, buscar um conselho ou apenas contar como foi o seu dia.
           Mas... O filme em preto e branco coloriu-se e na busca de novas cores esqueceu-se de que há coisas que não se deve perder ou haverão de desbotar-se na poeira de um tempo em branco e preto. E nós educadores, escritores, engraxates ou garis temos o dever de resgatar o bom e o belo. Talvez não tenhamos respostas imediatas , mas a ciranda das palavras haverá de retomar a coerência e buscar as mãos que irão fechar o círculo e brincar de roda outra vez.
          Então sentiremos a cada dia, a cada amanhecer, o valor da palavra, do bom-dia ao professor, aos filhos, à família, ao porteiro do prédio, à madame que agora passa com seu cachorrinho pela calçada , nessa caminhada matinal que nos leva ao trabalho todos os dias...
          Salvemos a palavra , recuperemos o abraço, retomemos as rédeas de nossa cultura, na missão urgente e cuidadosa de resgatar com eles os valores que tornam o homem forte e destemido , valente e ao mesmo tempo terno e generoso .
          Olha para mim, toma a minha mão, vamos caminhar juntos e enfrentar o medo que temos um do outro. Você é minha continuidade; eu sou o resgate de suas forças puramente humanas .
           "Bom-dia, professora!" Recomecemos assim a nossa história.

                               (texto premiado p/ ABL e F.D. -2005)

sábado, 2 de outubro de 2010

Até aqui escrevemos juntos nossa história...

Ao longe uma mulher se aproxima. Sorriso doce externando uma imensa felicidade, contornando com as mãos, como se assim melhor protegesse o desenvolvido ventre, que busca espaços cada vez maiores entre as fartas vestes...

Seria o primeiro bebê? o segundo?o último talvez ? Não sei... Não há como diagnosticar períodos ou épocas; medir esperas, configurar estágios de alegria ou dor, felicidade ou angústia na fantasiosa espectativa.
Vejo agora não apenas um mulher, mais que isto a mãe que segue alheia aos gritos e conflitos, pois Deus lhe houvera  concedido uma grande dádiva...

Agora um choro soa como música fosse, bracinhos estendidos buscando sugar no peito o alimento primeiro que ela lhe daria a partir daí durante toda a sua vida, através das horas, do tempo, das memórias...

Noites e noites vagariam juntos, muito juntos encostados um ao outro junto ao peito protegidos Ela protegendo você do mundo, você a protegê-la das tristezas e das angústias trazendo-lhe o bálsamo do seu sorriso, do seu abraço pequenino enroscado ao pescoço trazendo risos e lágrimas de grande felicidade e uma enorme paz...

O tempo passa... e a criança que chora e ri, que corre pelas calçadas em direção ao seu abraço, que brinca no balanço enquanto você sentada em um banquinho o observa atenta, orgulhosa. e feliz... cresceu!!!

A criança que você leva à escola apressada, olhos sonolentos de uma noite cheia de sono e sonhos... cresceu!!!

Cresceu e através das asas de uma imaginação fértil e sob um céu azul de esperanças ,busca traçar seus próprios caminhos, alcançar novos sons, novas cores, imagens novas que passarão a fazer parte das páginas de sua própria história, da história que ela haverá de escrever a partir daí...

                              " É.. Até aqui escrevemos juntos nossa história!"...

E dos beijos e abraços, das noites insones, das corridas pelas calçadas, ficam memórias, lembranças que alimentam hoje o dia-a-dia de uma mãe solitária e triste que o tempo deixou ali, quietinha na cadeira, ou recostada em um sofá, tentando conviver com uma imensa saudade!!!...

                                                   Aos meus filhos:Grazielle,Giancarlo e Guilherme

Em busca de paz

 A subida íngreme,  pés escorregadios, pedras, o monte,
oferecem caminho até a pequenina ponte
sobre o córrego entre rochas escondido.
Murmurando segredos,
driblando o tempo em sua limpidez
sem rugas,sem máculas ou insensatez,
como antes, como sempre...
Ponte de tábuas desencontradas,
cenário em pitoresca tela pintado
em mescladas cores pelo artista do tempo!


De um lado uma casa grande e confortável,
amplas salas, móveis estilosos.
Do outro uma casa pequena,
um fogão a lenha, galinhas cacarejando,
um cachorro preto inquieto , saltando,
que a menininha da casa em frente
chama de "lobo mau"...
Um velho senhor leva às mãos
ora o machado, ora a enxada
na horta verde e bem cuidada...
A mulher sopra o fogão de lenha.
Da chaleira  o café fresquinho
pra oferecer aos que passam
dando de prosa um tiquinho.
Bananeiras , abacateiros,
porcos na seva ao fundo,
completam uma sinfonia
com seresteiros animais,
que o lindo amanhecer irradia!...

Fico a espiar como invisível fosse,
encantada com a leveza tão doce
do casal diante do tempo que passa!...
Corrida para o trabalho,que nada !...
Não há pressa pra o pé na estrada!
Só, apenas só, a casa simples ,
um chapéu de palha sobre a cerca arriado...
Grotesco tempo de uma gente igual,
contato franco com o natural!...

Quanto a mim, na casa ao lado,
venho com a garotinha brincar,
pra que possa tão intenso desfrutar
o tempo sutil da infância,
que um dia vai passar...
Sentada no chão,
sentindo a terra sob os pés,
uma casinha de bonecas,
o fogãozinho de brinquedo,
o Chapeuzinho Vermelho, a Branca de Neve...

E lá vamos nós a "ipolá"*
a pequena mata ao lado da casa,
onde as galinhas do "Seu " Moisés
ciscam e correm, pintinhos ao redor...
Nas mãos uma pequena vara
e à luz os mistérios dos contos de fada:
o lobo mau mora por ali,
vamos levar doces para a vovozinha...
Os sete anões já vão surgir,
e a Branca de Neve os vai seguir
pra uma casa muito pequenina
que por certo existe por ali.

Transformo-me assim criança outra vez.
Biscoitos , maçãs... Um piquenique vamos fazer!
Sentadas sobre um velho tronco
olhando os longos "fios de cabelo"
da árvore frondosa por onde se passa ...
Tudo é lindo, tudo é graça!

Olho pra ela. Ela ri e fala,
corre e novamente ri um riso cristalino.
Parece que toda ela é um tesouro lindo
com os olhos, a boca, o rosto, o corpo inteiro rindo!

Feliz, volto pra casa em paz.
Missão cumprida. Um dia mais eu fui capaz
 de levar um coração pequenino
a conviver com seu tempo-menino,
sem perder o natural, o belo.
Ah!... Antes de atravessar a pontezinha
que me leva de volta ,aceno para a pequenina.

Torno a olhar a casa ao lado:
o mesmo quadro tranquilo, sereno...
Na boca levo ainda o gostinho,
de D. Ruth o suave cafezinho,
trazendo-me ao outro lado da ponte,
ao outro lado da vida...
E como quem a um belo filme assiste,
 no coração a certeza
de que,sim, a felicidade existe!!!
                                                                   
                                                          De Anna Lucia para Lulu

*ipolá = explorar (no dicionário de Ana Luiza,2 aninhos)