HOUVE UM TEMPO

Houve uma época em que a chuva era musa inspiradora de versos intensos e expressivos e de um romantismo absoluto em que tudo era envolto em muita paz e esperas e sonhos... 
Os olhos eram outros a olhar pelas janelas o suave descer daquelas gotinhas que até pareciam cintilantes a cair sobre os telhados, a molhar os rostos suados, a permitir “ cantar na chuva” e cair nas poças de lama pelas ruas e gritar e gargalhar em tamanha euforia...
Tempo em que o pão de cada dia era conquistado no caminhar lento, na ida para o trabalho, chapéu a cobrir a cabeça sob a chuva ou o sol, mas humildemente conquistado!
A ambição desmedida do homem nos trouxe a crise e roubou da mesa do trabalhador a suada conquista de alimentar, vestir amparar sua família com o pouco que era muito pois bastava-lhe o trabalho e a coragem em ir a luta.
Hoje chove. E minhas palavras não têm mais o vigor e o romantismo a que uma época que me permitia, poder sentir através das gotas de chuva imagens coloridas de sonhos e esperanças.O mundo mudou, as pessoas mudaram, os sonhos tornaram-se pesadelos ambulantes gerados pelas mãos usurpadoras de mentes sem dó, religião ou fé alguma.
Mas ... ELE está lá ainda em mãos estendidas com poder de transformar profundos lamaçais em terra firme, e para nós que cremos ter o SENHOR um poder maior aguardamos o que há de vir a transfigurar o mal e fortalecer o bem e a virtude tornando-nos capazes de ultrapassar obstáculos e vencer e vencer pois de TUDO ELE É CAPAZ!

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UMA VEZ MAIS

Volto aqui , uma vez mais , em busca de refúgio no interior das palavras que fluem assim, tão abruptamente de meu coração. Já tive sonhos e os realizei. Já tive lutas que ultrapassei e deixei pelos caminhos em pedaços meus, que foram assim ficando e deixando comigo esta essência de paz que busco aprisionar com muito esforço ,dentro de mim, através de orações, de preces ao Criador...
Inibem-me e me transtornam palavras rudes que escuto calada. E assim prostrada, pois me afrontam de tal forma e tanto que me transpassam como espada a ferir-me profundamente a alma e os sentimentos, pelo que sou, pelo que fiz, pelo que ainda resta de mim...

Até quando elas me servirão de refúgio, eu não sei... Um dia hei de me cansar e nem elas, as palavras ,já não sairão de dentro de mim tão facilmente. Mas... Enquanto me restam elas pra dizer de mim, aqui estarão refletindo sempre um estado de espírito, uma vontade de falar o que é preciso calar pra que outros não sofram comigo, pra que possam viver , ainda, suas vidas de sonhos, sem que minha sombra possa ofuscar a luz de suas vidas.

O ESPELHO

Olho no espelho e ao estender as mãos,
Que ao ar se jogam em espaços  vãos,
 Num fim de tarde que a mim ofusca
A face turva em obstinada  busca !...

Não sei se me verás do jeito que me lembras
Nem sei se lembras de que jeito que eu fui
E estas cavernas intensas, sem fim,
Gritam-me em eco em busca  de mim.

Fecha-me os olhos a ofuscante luz,
Que aqui me encontra e intensa me seduz.
Leva-me ,senta-me em um cantinho,
Deixa-me  ver a aurora em meu caminho.

E os que passam vão por certo ver,
Que minha face já não turva e fosca
Leva um sorriso em saber enfim,
Que esta é a história que escrevi de mim!!!

 .

RETRATOS DA ALMA

Um novo amanhecer e tudo se renova então. As esperanças, os sonhos, a credulidade e fé no ser humano pois sempre , apesar de tudo, acreditamos poder sentir no âmago de cada um a bondade irradiada por uma luz maior e mais incandescente de força única de um Ser supremo e  sempre atento aos nossos dias de uma luta continuada pelas estradas da vida.

Hoje revi meus retratos. E meus pés me levaram a um retorno , como se meu filme  , assim, rebobinasse a fita a um reinício, a um tempo distante... Quantas passagens, tantas lembranças...Levam-me a um casarão antigo e majestoso em sua imponência pela característica, em ruas tranquilas de certo bairro , em certa cidade... Em uma cadeira uma senhora muito amada, tecia seu croché e sempre falante, repassava conselhos e dicas de bem viver a quem dela se acercasse. Quanta saudade! Tive o privilégio de conviver com ela por muitos verões e poder ouvir suas estórias , seus conselhos,em uma voz rouca que me parece ouvir ainda, como se aqui estivesse, ao meu lado...

...E as fotos se revelam passo a passo. Meus filhos pequeninos, meu amor maior a cada vez  que Deus me dava a dádiva de ser mãe. Estão aqui, na memória fresca e límpida, todas as passagens e fatos que com eles passei em sua caminhada. Não , não é preciso manusear retratos embaçados pelo tempo em minhas mãos, pois em minha mente e em meu coração estão todos eles pendurados, lado a lado, em um mural de nítidas recordações. Meu primeiro bebê, uma linda bonequinha loura! O segundo um robusto menininho travesso, e o terceiro , um moreninho falante e ousado... A partir daí , sempre presente, correndo atrás das necessidades e conquistas , superando obstáculos e emitindo força e fé em todos os seus momentos. Meus filhos, minha vida!

É... O tempo passou e aqui estou eu a aliviar memórias, com saudades sim, mas com a intensa certeza de que sou abençoada pela vida que tenho, pelas estradas que percorri, conhecendo da vida o que ela me oferecia, aprimorando nela o que melhor podia, e tecendo a sabedoria e a força de alguém que opinou em repassar o bem e a verdade aos semelhantes, com amizade, confiança e tolerância. Ah, e aquela senhora querida , hoje, por certo, de onde estiver, é um dos anjos que orientam e guiam nossa caminhada a cada novo despertar.

Abraça-me

A insignificância a que somos submetidos cotidianamente, traz-nos o constrangimento de pisotear nosso íntimo , desenganar nossas emoções , na busca da obstrução de nosso riso e de nossas esperanças. Aproximemo-nos de quem nos torna mais dignos , de quem encontra em nós a essência do que somos , de verdade, aqueles que são capazes de nos compreender e nos fazer sentir que somos amados e bem vindos ao seu abraço.

PERDI-ME DE MIM!

Perdi a voz, perdi o encanto,
Deixei-me ser, assim, sombra 
dos ensolarados umbrais do meu passado.
Sou eu ainda aqui, nestas vestes despojadas?
Serão meus estes passos sem cadência 
A resistir ao tempo, à vida, ao teu descaso?
Serão minhas estas palavras toscas e rudes
que me percebo a proferir assim, sem poder calar?
Não sei.Perdi-me de mim e tenho medo,
muito medo de não mais me encontrar !!!

Outra vez é "Festa de São João"!

Abro a janela. Um ar fresco e cheio de odores verdes e puros chega-se a mim. Sobre os telhados antigos a umidade do tempo fez morada...  Tudo está tão diferente!!! Fecho os olhos e me vejo saltitante feliz já que as luzes se acenderam, os fogos explodiam , as barraquinhas já estavam chegando... É festa de São João!!! Uma viagem no tempo, e por instantes deixei-me transpor assim, suavemente!...
Os vestidos eram feitos pela vizinha ao lado, sem marcas importantes, sem boutiques, com leveza...Os cabelos não tinham trato de escovas e alisamentos, eram naturalmente lisos ou encaracolados. Éramos mais feios,mais infelizes? Nunca! Éramos tão jovens, tão puros em nossa credulidade em relação ao mundo, às coisas simples... A correria nas barraquinhas que traziam de tudo um pouco , o que , para nós, era muito pois àquela época eram novidades que só eles traziam até nós!
À noite , vestíamo-nos no maior requinte pra desfilar pelas ruas com as amigas, e ouvir os galanteios da rapaziada que através de " psius" e um "posso falar com você?" iniciavam os galanteios aos quais dávamos belas gargalhadas, no vai-e-vem pelas ruas enfeitadas que transmitiam ao nosso coração adolescente e cheio de jovialidade um colorido inesquecível !
Abro os olhos ao despertar de meus devaneios e sorrio... Um sorriso de felicidade , de alegria por haver curtido um tempo que se me deixou saudades, mais ainda deixou-me marcas indeléveis que me fazem confrontar com a realidade dos tempos de maneira digna, expressiva , procurando repassar valores que aprendi em uma época, em um tempo , que, de "chic" só tinha mesmo um ritual amigo e cheio de graça!!!

QUANDO DÓI O CORAÇÃO

Vontade de estar junto, de ajudar, de amparar...Vontade de ser o que esperam de mim e poder cooperar mais e mais... Que eu seja, pelo menos, capaz de enviar, através de orações, anjos iluminados que aqueçam seu frio, que afaguem seu cansaço, que lhes projetem idéias e ideais de convivência, aproximem soluções, superem obstáculos, dando-lhes as mãos onde tiverem que saltar obstáculos e meios de contornar espaços na busca de tudo que for possível para alcançar serenidade e paz no caminhar.

Só liguei pra falar que TE AMO!

O telefone toca.

E logo correndo a atender me vejo,

Pois o coração me diz que é você!

Do outro lado da linha sua voz ,

A mesma voz suave em um lampejo

Que nada, nem ninguém consegue 

apagar através do tempo, da distância.

E embora os nossos passos
Descubram novos espaços ,

Aqui estamos nós!...

É  muito chão, muitas horas, muitos medos, muitas vidas...

Quando eu e você, unidos, agarrradinhos sempre

Um ao outro, escutávamos nosso coração bater

Em um ritmo único dentro do peito,
Desde os primeiros instantes de vida

Quando em mim sugava ainda
Seu primeiro alimento no meu leito!